Na contemporaneidade, um dos maiores desafios que os professores da educação básica encontram em sala de aula é conseguir a atenção de seus alunos e despertar o interesse pelo conteúdo abordado. Assim, nos últimos anos foram pensadas alternativas metodológicas para tornar mais interessante o processo de aprendizagem. Entre as alternativas, os jogos pedagógicos foram reconhecidos como uma das principais opções para otimizar a absorção do conhecimento em paralelo com a suavidade da brincadeira que muda a dinâmica de sala de aula ao introduzir novas maneiras de ensinar e aprender. De acordo com Melo e Alves (2011), citando Cadorna (2007), os jogos facilitam a compreensão de conceitos abstratos, estimulam a socialização e fazem com que o estudante se sinta ator do próprio aprendizado, proporcionando o prazer da descoberta e do trabalho em grupo.
As atividades lúdicas proporcionam aos estudantes liberdade para a experimentação dos conteúdos propostos de diversas formas, como através de brincadeiras e com isso transformam a aprendizagem em algo prazeroso e não uma obrigação. Por meio das brincadeiras, o processo escolar torna-se menos rígido e potencializa características individuais, além de dinamizar o trabalho docente ao requisitar comprometimento na elaboração de diferentes maneiras de transmitir o mesmo conteúdo, percebendo as facilidades e dificuldades de cada escola, sala ou aluno; logo, humanizando o atual ensino, que por vezes ainda pode-se mostrar engessado, ao desconsiderar um aprendizado pautado no desenvolvimento crítico.
"[...] Os jogos e as atividades lúdicas tornam-se significativas à medida que a criança se desenvolve, com a livre manipulação de materiais variados, ela passa a reconstituir, reinventar as coisas, que já exige uma adaptação mais completa. Essa adaptação só é possível, a partir do momento em que ela própria evolui internamente, transformando essas atividades lúdicas, em linguagem escrita que é o abstrato (PIAGET, 1975, p. 156).
Visando todos os benefícios dos jogos como alternativa metodológica eficaz para o processo de aprendizagem, o Laboratório conta com um projeto de extensão JADEH que se dedica à criação de jogos de aprendizagem dinâmica no ensino de História. Além do material produzido pelo projeto - que será apresentado em uma próxima publicação - o LEHES tem em seu acervo atualmente quatro jogos de diferentes temáticas, sendo eles, jogos a respeito da cultura africana e afro-brasileira, cinema e o protagonismo feminino. Nesse primeiro momento iremos falar do “Yoté - O jogo da nossa memória” e “Bafo Afro” , jogos esses que buscam resgatar a história africana, afro-brasileira e a representatividade dos personagens da vida real.
Yoté - O jogo da nossa memória
Yoté é um jogo de estratégia dos povos africanos praticado em vários países da África Ocidental, como Senegal, Guiné e Gâmbia. O jogo conta a vida e a obra de personagens brasileiros, entre eles: Chiquinha Gonzaga, Mãe Menininha, Pixiguinha, Zumbi dos Palmares, dentre outros. Mas também, abre a possibilidade de incluir personagens da própria localidade e assim aproximar a história .
Idealizado por Ricardo Spindola Mariz , junto com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, foi elaborado para atender a Lei 10.639/03, alterada pela Lei 11.641/08, que tornou obrigatório o ensino da História e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas. O “Yoté- O Jogo da Nossa História” reafirma o compromisso do ensino com a diversidade social, étnico-racial e cultural como fator de promoção da igualdade e fortalecimento das identidades e dos direitos.
Sobre o jogo:
O jogo está disponível para a impressão : livro do professor, livro do aluno e materiais para impressão (regra, caixa, peças, tabuleiro). Ele pode ser praticado por dois ou mais jogadores(as). É composto de três etapas, e para a avançar para a etapa seguinte o jogador deve dominar os conteúdos sobre a história de vida de cada personagem proposto do jogo. Assim, é necessária uma pesquisa sobre a vida de cada um dos personagens, sendo o principal objetivo do jogo aprender mais sobre a História de pessoas negras que participaram da construção da cultura brasileira, e também, de ajudar a aprender a trabalhar em grupo e na convivência humana, o Português e a Matemática.
Personagens sugeridos:
Entre os personagens sugeridos para a primeira parte do jogo, que também consta uma breve pesquisa no material para jogar está: Adhemar Ferreira, Chiquinha Gonzaga, Clementina de Jesus, Cruz e Souza, João Cândido, Lélia Gonzáles, Luiz Gama, Mãe Menininha, Mãe Senhora, Milton Santos, Pixinguinha e Zumbi dos Palmares.
O jogo também possibilita a substituição dos personagens sugeridos por um personagem importante da comunidade utilizando as duas peças extras do jogo. Nesse caso é preciso pesquisar sobre o personagem, de preferência um personagem do sexo feminino e outro masculino.
Informação importante: É importante salientar que há regras sugeridas pelo idealizador do jogo, entretanto podem ser criadas outras regras e formas de utilização do jogo. Usem a criatividade! Um bom divertimento e uma boa aprendizagem para todas e todos.
Jogo Bafo Afro:
Processo de criação:
O jogo Bafo Afro assim como tantos outros é fruto do cotidiano em sala de aula. Ao contar um pouco do processo criativo do jogo, a professora da rede municipal de ensino de Porto Alegre, Perla Santos, responsabilizou a inspiração a partir da observação de seus próprios alunos, que costumavam “bater cartinha” mesmo tendo outros jogos disponíveis. A professora ainda salienta que todo o processo de criação foi conjunta com os estudantes, com diálogo sobre a necessidade de identificação desses estudantes com o material. Ela sugeriu para trocarem as cartinhas com figuras de heróis de jogos de vídeo game ou história em quadrinhos por heróis reais, que viveram e resistiram ao longo do tempo como: Dandara, Zumbi dos Palmares, Teresa de Benguela, André Rebouças e José Patrocínio, entre outros.
Sobre o jogo:
O Bafo Afro é um jogo sem muita complexidade como relatado pela professora criadora, e a regra principal é a criatividade. Afinal, vimos nesse post que a criatividade é a regra principal quando se fala da ludicidade. Como as cartas do jogo tem figuras, pontuação e uma breve biografia de cada um dos heróis e heroínas da vida real, tais características tornam essa brincadeira interdisciplinar, multifuncional e um rico material de apoio do início ao fim do ano letivo.
Uma curiosidade relevante ao falar do Bafo Afro é a respeito da configuração das cartas. A maioria das cartas são representantes femininas e essas são as de maiores pontuações a fim de valorizar o papel da mulher negra que ao longo da história sofre com a invisibilização, violência e hiper sexualização sob seu corpo.
Foto retirada da rede social da professora Perla Santos.
Sugestão de como jogar:
O BafoAfro assim como o Yoté podem ser jogados conforme a criatividade e com finalidade educativa idealizada pelo educador para a aprendizagem de seus estudantes. A professora Perla sugere usar as cartas como um jogo de memória ou como seus alunos faziam com as cartinhas de heróis imaginários, batendo.
Vídeo da idealizadora:
REFERÊNCIAS:
SILVA, Aparecida Regina da. NAGASHIMA, Lucila Akiko. Desenvolvimento de jogos didáticos como ferramenta pedagógica: um olhar para o ensino de Ciências. Os desafios da escola pública paranaense na perspectiva do professor PDE Artigos, p. 02-25, vol.I, 2014. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2014/2014_unespar-paranavai_cien_artigo_aparecida_regina_da_silva.pdf Acesso em: 4 nov. 2020.
SANTANA, Valdir Rocha Santana. CRUZ, Hebert José Caló. SANTOS, Mariana Bonfim Coelho dos. A importância de aprender brincando: uma proposta pedagógica no ensino de geografia. XV Encontro de Geografia da UESC Análise Espacial, teórica e prática no saber geográfico, p. 1-11, 2014. Disponível em: http://www.uesc.br/eventos/xvencontrogeografia/arquivos/artigo8-valdirrs.pdf Acesso em: 4 nov. 2020
Mariz, Ricardo Spindola. Yoté : o jogo da nossa história : o livro do professor. Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2010.
Souza, Kym. Professora cria jogo de cartas com grandes nomes da cultura preta: Após notar que os alunos gostavam de jogos de cartas, Perla Santos decidiu criar o jogo com heróis e heroínas pretos. Casa.com.br. 3 jul. 2020. Disponível em: https://casa.abril.com.br/news/professora-cria-jogo-de-cartas-com-grande-nomes-da-cultura-preta/- Acesso em: 4 nov. 2020
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