10 anos do Programa de Educação Tutorial em História da UFTM: memória, identidade e a ampliação da formação e atuação do professor-historiador.
Cláudia Regina Bovo
Tutora Pet História UFTM
Departamento de História/ IELACHS/UFTM
O PET - Programa de Educação Tutorial nasceu em 1979, há 41 anos, sob a alcunha de Programa Especial de Treinamento. Naquele ocasião, em pleno período da ditadura civil-militar, a ideia base era fomentar a criação de um Programa de excelência para a formação dos líderes do amanhã. Idealizado por Cláudio de Moura Castro, presidente à época da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal – CAPES, o PET nasceu como projeto ousado, por integrar atividades de pesquisa, ensino e extensão, proporcionando financiamento aos estudantes de graduação com maior desempenho acadêmico.
Composto por grupos tutoriais, ele visa proporcionar aos discentes de graduação, sob a orientação de um professor tutor, condições para realização de atividades extracurriculares que complementassem sua formação acadêmica e colaborassem com atividades de ensino, pesquisa e extensão que também aperfeiçoassem o curso de graduação ao qual os Pets estivessem vinculados.
Em 1999, ainda submetido à CAPES, o PET sofreu um duro golpe com o anúncio presidencial de Fernando Henrique Cardoso sobre sua extinsão a partir de 31 de dezembro daquele ano. Na época eram 317 grupos espalhados pelo Brasil, com mais de 4000 bolsistas e verbas de custeio próprias destinadas a operacionalizar as atividades dos grupos. O programa especial de Treinamento era uma das principais fontes de fomento e desenvolvimento da Universidade Brasileira. Com alto rendimento e produtividade, o anúncio do fim não encontrava respaldo nos resultados institucionais apresentados pelo PET.
Em 2000, na tentativa de mantê-lo, um movimento iniciado por petianos tutores e discentes apresentou-se como a grande resistência que permitiu, através da conquista de apoio de emendas parlamentares anuais, a sobrevivência do financiamento das bolsas aos discentes. Foram anos de muita luta política para conseguir que o PET tivesse seus benefícios na formação acadêmica e extensionista reconhecidos pelas lideranças políticas brasileiras.
Apenas em 2004, pela iniciativa de Tarso Genro, então Ministro da Educação, o Programa Especial de Treinamento foi rebatizado como Programa de Educação Tutorial, conquistando estabilidade institucional. Em 2005 o Programa de Educação tutorial foi formalmente instituído pelo art. 12 da LEI 11.180 de 23/09/2005, definindo-se por uma nova estrutura de tutoria, mas preservando a interface permanente entre ensino, pesquisa e extensão. As Portarias nº 3.385/2005, nº 1.632/2006, nº 1.046/2007 consolidaram sua regulamentação, posteriormente aperfeiçoada pelas Portarias nº 976/2010, nº 343 de 2013 e as Resoluções nº 36 de setembro de 2013 e nº 42 do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE de 4 de novembro de 2013. Atualmente o PET tem 842 grupos, distribuídos por 121 Instituições de Ensino Superior e são classificados como: Pet Curso, Pet Conexões de Saberes, Pet Indígena, Pet Interdisciplinar.
Na Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM, os Programas de Educação Tutorial da Medicina (1988) e da Enfermagem foram os primeiros PET Curso da instituição, criados ainda no antigo formato do Programa Especial de Treinamento. Entre 2009 e 2010, novos 7 Programas nasceram: PET Química, PET Letras, PET Matemática, PET Conexões de Saberes Licenciaturas e Serviço Social, PET Conexão de Saberes Serviço Social, PET Conexões de Saberes Ciências da Natureza e Matemática e o PET Conexões de Saberes História. Hoje temos programas vinculados a cursos e interdisciplinares em pleno desenvolvimento na UFTM.
O Programa de Educação Tutorial tem compromissos epistemológicos, pedagógicos e sociais, pela sua natureza de integração do ensino, da pesquisa e da extensão universitária. Como um programa de formação complementar de longo prazo, pois os discentes ingressam e permanecem ativos no programa até se formarem na graduação, ele desenvolve habilidades colaborativas de construção ativa e conjunta do conhecimento.
O PET História UFTM tem atuado desde sua fundação, em 2010, na indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão. Sob essa prerrogativa, aproximando de comunidades periféricas de Uberaba-MG, o PET História buscou formar professores-historiadores e sujeitos sociais com teoria e método, sensibilidade e clareza sobre os debates teóricos que são a base da reflexão histórico-historiográfica, mas também disponível e em diálogo com a comunidade que nos circunda.
Entre 2010 e 2012, sob a tutoria do prof. Clayton Cardoso Romano, o grupo trabalhou junto à comunidade de moradores dos bairros Estrela da Vitória e Jardim Planalto. O objetivo foi fazer o mapeamento dos bairros, procurando detalhar os indicadores econômicos, políticos e socioculturais dos moradores, através da história oral da comunidade, captada em entrevistas. Também atuou-se no espaço escolar da E. E. Carmelita Carvalho Garcia e E.M Norma Sueli Borges, buscando desenvolver metodologias para o ensino de história em comunidades populares, elaboradas com a participação de todo o corpo escolar (direção, coordenação, professores, estudantes). A memória e a cultura popular da comunidade do Bairro Planalto foram a base para a produção do primeiro vídeo-documentário do PET História UFTM.
Entre 2013 e 2016, agora sob a tutoria da profa. Sandra Mara Dantas, o PET História UFTM atuou no Bairro Abadia, um dos mais antigos e populosos bairros de Uberaba. Imbuídos do trabalho de pesquisa e extensão junto à comunidade local, com o auxílio da metodologia da história oral e dos estudos teóricos da memória, ajudaram a se aproximar e divulgar as identidades que compõe esse espaço uberabense. O trabalho com documentação impressa, a partir do Arquivo Público de Uberaba e do Santuário Nossa Senhora Abadia, colaborou juntamente com as entrevistas dos moradores a compor a história do lugar e seus sujeitos. Como resultado o grupo produziu seu primeiro livro Baú de Memórias: entre a identidade e a diversidade no Bairro Abadia (https://pethistoriauftm.blogspot.com/p/arquivo-do-livro.html), um documentário (https://www.youtube.com/watch?v=WcwhAf0yk-0&t=17s e desenvolveu várias atividades de ensino nas escolas do Abadia.
Em 2017, através de envolvimento com grupos como o da Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI) e a Unidade de Atendimento ao Idoso (UAI), o PET História desenvolveu o trabalho sobre “Os Idosos na História”. O foco era Estudar a velhice, entendendo-a como uma questão de cidadania e reconhecendo esse grupo social como fundamental na construção dos processos históricos. Nesse sentido, o trabalho focou-se em visitas a espaços de convivência do idoso, propondo oficias e atividades que os múltiplos modos da pessoa idosa (re)construir sua história e, simultaneamente, buscando compreender como as alterações históricas impactavam suas percepções e formas de inserção e ação no mundo social. Como resultado do trabalho o PET História UFTM produziu um livreto que foi distribuído às instituições que participaram das atividades e para a comunidade acadêmica.
Em 2018, o trabalho do grupo voltou-se para a história de Peirópolis, distrito de Uberaba. O bairro rural de Peirópolis em Uberaba é uma comunidade de aproximadamente 300 moradores, distante 20 km do centro urbano, marcada por algumas singularidades como o fato de ser um sítio histórico-paleontológico, tombado pelo Conselho do Patrimônio Histórico e Artístico de Uberaba; ter o turismo como atividade econômica fundamental e uma identidade sócio espacial específica. O bairro teve início no final do século XIX com a construção de uma estação ferroviária da extinta companhia Mogiana, a qual contribuiu para o processo de povoamento e posterior urbanização do bairro.
Numa primeira etapa o grupo esteve dedicado a estudar os processos históricos recentes de constituição da Associação Amigos de Peirópolis e a fundação do Museu dos Dinossauros, utilizando da metodologia da história oral com a entrevista dos moradores e também de documentação histórica presente no Arquivo Público de Uberaba entre as décadas de 1980 – 2010.
Em 2019, já sob a tutoria da profa. Cláudia Regina Bovo, a investigação ampliou-se temporalmente para o início da formação do bairro (1890) e para adoção dos mecanismos teóricos práticos da história pública como elemento para divulgação e educação histórica sobre Peirópolis. O PET História UFTM dedicou-se ao eixo temático História Pública, Educação Histórica e Identidade em Peirópolis. O objetivo geral foi contribuir para o desenvolvimento de ações de ensino, pesquisa e extensão que explorassem a articulação teórico-prática entre a História Disciplinar e a História Pública, promovendo ações relacionadas à identificação, conservação e exploração dos bens patrimoniais materiais e imateriais de Peirópolis e seu lugar na História de Uberaba e do Brasil.
Foram utilizados as redes sociais para divulgar as pesquisas e trabalhos de ensino e extensão desenvolvidos pelo PET História. Foram atualizados o Blog do PET História UFTM (https://pethistoriauftm.blogspot.com/), o canal do PET História UFTM no Youtube (https://www.youtube.com/channel/UCBY-PVwh4yHr3sw3VaHXCSg), página oficial no Facebook (https://www.facebook.com/pethistoriauftm/) e criados o perfil do PET História UFTM no Instagram (https://www.instagram.com/pethistoriauftm54/?hl=pt-br), e 2 jogos didáticos. Uma preocupação premente do PET é a integração com a graduação e com outros grupos PETs, tanto no âmbito da UFTM como de outras IES. Para tanto, buscamos realizar atividades como ciclo de palestras Comemorar a História: ensino, pesquisa e extensão, dedicado a trazer palestrantes para debater temas pertinentes para formação do professor e do historiador e participar dos eventos acadêmicos como o SudestPET (encontro da regional sudestes dos Programas de Educação Tutorial), o EnaPET (Encontro Nacional dos Programas de Educação Tutorial), as semanas de História da UFTM, UFU, Unesp e os encontros regionais e nacionais da ANPUH – Associação Brasileira de História.
Com vistas a proporcionar uma formação ampla na licenciatura em História da UFTM, o PET História UFTM incentiva o intercâmbio de saberes entre diferentes espaços (formais e não formais) de aprendizagem, ultrapassando o universo acadêmico-científico e alcançando espaços de experiência de saberes tradicionais e populares. Na interação com a comunidade, com os diversos espaços acadêmicos e com os demais grupos PET da UFTM e nacionais, os mais de 90 petianos, bolsistas e voluntários, que passaram por aqui durante esses 10 anos forma estimulados a desenvolver competências e habilidades múltiplas que, efetivamente, buscam aprofundar não apenas sua formação profissional e intelectual, enquanto professores-historiadores, mas os incentivam também na formação pessoal para a consciência de solidariedade e colaboração.
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